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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ensinamentos: Religião no Mundo de Hoje

Muitos ensinamentos, muitos caminhos — Encontrar a verdadeira satisfação não depende de seguir qualquer religião específica ou manter uma crença em particular. Contudo, muitas pessoas buscam a satisfação na prática religiosa ou na fé. Quando permanecemos isolados uns dos outros, às vezes ficamos com imagens distorcidas das tradições ou crenças diferentes daquelas que defendemos; em outras palavras, podemos acreditar equivocadamente que nossa religião é de alguma maneira a única válida. Na verdade, antes de deixar o Tibete e ter contato mais próximo com outras religiões e outros líderes religiosos, eu mesmo tinha idéias! Mas enfim entendi que todas as tradições têm grande potencial e podem desempenhar uma função muito importante no benefício da humanidade. Todas as religiões do mundo contêm ferramentas para lidar com nossa aspiração básica de superar o sofrimento e alcançar a felicidade. Neste capítulo, vamos examinar esses instrumentos.
Algumas religiões possuem sofisticadas análises filosóficas; outras extensos ensinamentos éticos; outras dão grande ênfase à fé. Entretanto, se observarmos os ensinamentos das grandes tradições de fé do mundo, iremos discernir duas dimensões principais da religião. Uma é a que poderia ser chamada dimensão metafísica ou filosófica, que explica por que somos do jeito que somos e por que são prescritas certas práticas religiosas. A segunda dimensão refere-se à prática da moralidade ou disciplina ética. Pode-se dizer que os ensinamentos éticos de uma tradição de fé são as conclusões amparadas e validadas pelo processo de pensamento metafísico ou filosófico. Embora as religiões do mundo tenham grandes divergências em termos de metafísica e filosofia, as conclusões a que chegam essas filosofias divergentes – ou seja, seus ensinamentos éticos – mostram um grau elevado de convergência. Nesse sentido, podemos dizer que, a despeito de quaisquer explicações metafísicas que as tradições religiosas utilizem, todas chegam a conclusões similares. De uma forma ou de outra, as filosofias de todas as religiões do mundo enfatizam o amor, a compaixão, a tolerância, o perdão e a importância da autodisciplina. Por meio do compartilhamento, do respeito e da comunicação interpessoal e intercrenças, é possível aprender a estimar as valiosas qualidades ensinadas por todas as religiões, e os instrumentos pelos quais todas elas podem beneficiar a humanidade.
Dentro de cada caminho, encontramos pessoas verdadeiramente dedicadas ao bem-estar dos outros, movidas por uma profunda noção de compaixão e amor. Ao longo das últimas décadas conheci um bom número de pessoas de tradições diversas – cristãos, hindus, muçulmanos e judeus. E em cada tradição existem pessoas maravilhosas, afetuosas, sensíveis - pessoas como Madre Teresa, que dedicou toda sua vida ao bem-estar dos mais pobres entre os pobres do mundo, e o Doutor Martin Luther King Jr., que dedicou sua vida à luta pacífica pela igualdade. É evidente que todas as tradições têm o poder de trazer à tona o melhor do potencial humano. No entanto, diferentes tradições usam diferentes abordagens.
Agora poderíamos perguntar: “Por que é assim? Por que existe tanta diversidade metafísica e filosófica entre as religiões do mundo?” Tal diversidade pode ser encontrada não só entre diferentes religiões, mas também dentro das religiões. Mesmo no Budismo – nos ensinamentos do próprio Buda Shakyamuni – ela existe. Nos ensinamentos mais filosóficos do Buda, verificamos que essa diversidade é bastante pronunciada; em alguns casos, as instruções parecem até se contradizer!
Creio que isso aponta para uma das mais importantes verdades a respeito dos ensinamentos espirituais: eles devem ser adequados ao indivíduo que está sendo ensinado. O Buda reconheceu entre seus seguidores diversos tipos de índoles mentais, inclinações mentais, inclinações espirituais e interesses, e viu que, para se adequar a essa diversidade, precisaria ensinar de forma diferenciada nos diferentes contextos. Não importa quanto um ensinamento específico possa ser poderoso ou quanto um ponto de vista filosófico seja “correto”: se não for adequado ao indivíduo que o ouve, não tem valor. Assim sendo, um professor espiritual hábil julgará a pertinência de um determinado ensinamento para um determinado indivíduo e ensinará de acordo.
Podemos traçar uma analogia com o uso dos remédios. Antibióticos, por exemplo, são imensamente poderosos; são valiosos no tratamento de uma ampla variedade de doenças, mas são inúteis na cura de uma perna quebrada. Uma perna quebrada deve ser colocada adequadamente no gesso. Além disso, mesmo nos casos em que a utilização dos antibióticos é de fato imprescindível, se um médico receitar para uma criança a mesma dose que daria para um adulto, a criança pode morrer!
Do mesmo modo, podemos ver que o próprio Buda – por ter reconhecido a diversidade de índoles mentais, interesses e inclinações espirituais de seus seguidores – deu ensinamentos de maneira diferenciada. Observando todas as religiões do mundo sob essa luz, sinto uma profunda convicção de que todas as tradições são benéficas, cada uma delas servindo de forma única às necessidades de seus seguidores.
Vamos olhar para as semelhanças de outra maneira. Nem todas as religiões postulam a existência de Deus, de um Criador; mas aquelas que o fazem destacam que o devoto deve amar a Deus de todo coração. Como poderíamos determinar se alguém ama a Deus de forma sincera? Com certeza, examinaríamos o comportamento e a atitude dessa pessoa em relação aos demais seres humanos, em relação ao restante da criação de Deus. Se alguém mostra amor e compaixão verdadeiros em relação aos irmãos e irmãs humanos, e em relação à própria Terra, acredito que podemos ter certeza de que essa pessoa demonstra verdadeiro amor por Deus. É claro que quando alguém realmente respeita a mensagem de Deus, estende o amor de Deus pela humanidade. No entanto, creio que é altamente questionável a fé de alguém que professa a crença em Deus, mas não mostra amor ou compaixão pelos outros seres humanos. Quando analisamos dessa forma, vemos que a fé genuína em Deus é um meio poderoso para se desenvolver as qualidades humanas positivas de amor e compaixão.
Vamos nos deter em outro ponto divergente das religiões mundiais: a crença em vidas passadas ou futuras. Nem todas as religiões afirmam a existência dessas coisas. Algumas, como o Cristianismo, admitem uma próxima vida, talvez no céu ou no inferno, mas não uma vida anterior. De acordo com a visão cristã, esta vida, a vida presente, foi criada diretamente por Deus. Posso muito bem imaginar que acreditar sinceramente nisso proporciona um sentimento de grande intimidade com Deus. Com certeza, ao estarmos cientes de que nossas vidas são criação de Deus, desenvolvemos uma profunda reverência por Deus e o desejo de viver inteiramente de acordo com seus propósitos, pondo em prática nosso potencial humano mais elevado.
Outras religiões ou pessoas podem enfatizar que somos todos responsáveis por tudo o que criamos em nossa vida. Esse tipo de fé também pode ser muito eficiente para ajudar a pôr em prática nosso potencial para a bondade, pois exige que as pessoas assumam total responsabilidade por suas vidas, com todas as conseqüências recaindo sobre seus ombros. Pessoas que pensam assim de modo verdadeiro vão se tornar mais disciplinadas e assumir inteira responsabilidade em praticar a compaixão e o amor. Portanto, embora a abordagem seja diferente, o resultado é mais ou menos o mesmo.
Manter sua própria tradição — Quando reflito dessa forma, minha admiração pelas grandes tradições espirituais do mundo aumenta, e posso estimar com intensidade o valor delas. É evidente que essas religiões atenderam às necessidades espirituais de milhões de pessoas no passado, continuam a fazê-lo no presente, e continuarão no futuro. Percebendo isso, encorajo as pessoas a manter sua tradição espiritual, mesmo que se interessem em aprender sobre outras, como o Budismo. Trocar de religião é um assunto sério, e não deve ser tratado levianamente. Uma vez que as diferentes tradições religiosas evoluíram de acordo com contextos históricos, culturais e sociais específicos, uma tradição pode ser mais adequada para uma determinada pessoa em um ambiente específico. Somente a pessoa sabe qual religião é mais conveniente para ela. Assim, é vital não fazer proselitismo, propagando apenas a sua própria religião, afirmando que ela é a melhor ou a que está certa.
Nesse sentido, quando ministro ensinamentos budistas para ocidentais com outra formação religiosa, em geral ma sinto um pouco apreensivo. Não é meu desejo propagar o Budismo. Ao mesmo tempo, é muito natural que, entre milhões de pessoas, algumas sintam que a abordagem budista é a mais adequada, a mais efetiva para elas. E, mesmo que uma pessoa se simpatize e chegue ao ponto de considerar a adoção dos ensinamentos budistas, ainda é muito importante examinar os ensinamentos e a decisão com cuidado. Só depois de pensar muito, refletindo e examinando, pode-se chegar à conclusão de que a abordagem budista é, no seu caso, a mais correta e efetiva.
Não obstante, acho que é melhor ter algum tipo de fé, algum tipo de crença arraigada, do que não ter nenhuma. E acredito firmemente que alguém que pensa apenas nesta vida e no ganho mundano simplesmente não consegue obter satisfação duradoura. Esse tipo de abordagem puramente materialista não trará felicidade que perdure. Quando jovem e em pleno gozo das faculdades físicas e mentais, uma pessoa pode se sentir completamente auto-suficiente e no controle, e concluir que não é necessário ter fé ou entendimentos profundos. Mas, com o tempo, as situações mudam; as pessoas ficam doentes, envelhecem, morrem. Esses fatos inevitáveis; ou talvez alguma tragédia inesperada que o dinheiro não consiga remediar, podem ressaltar a limitação dessa visão mundana. Em tais casos, uma abordagem espiritual, como a budista, pode se tornar a mais adequada.
Compartilhar as tradições — Neste mundo diversificado, com inúmeras tradições religiosas, é de grande valor para os praticantes de diferentes religiões cultivar um respeito genuíno, baseado no diálogo, pelas tradições dos outros. No começo desse diálogo, é importante que todos os participantes reconheçam de forma plena não apenas as muitas áreas de convergência entre as tradições de fé, mas, mais crucialmente, que reconheçam e respeitem as diversidades entre as tradições. Além disso, devemos analisar as causas e condições específicas que dão origem às diferentes tradições de fé – os fatores históricos, culturais, sociológicos, até pessoais, que afetam a evolução de uma religião. Em certo sentido, essas reflexões nos ajudam a perceber por que uma determinada religião surgiu. Então, tendo esclarecido as diferenças e as origens, olhamos as religiões de uma nova perspectiva, cientes de que filosofias e práticas religiosas divergentes podem ocasionar resultados similares. Ao entrar no diálogo intercrenças dessa maneira, desenvolvemos respeito e admiração verdadeiros pelas tradições religiosas dos outros.
Na verdade, existem dois tipos de diálogos intercrenças: os que acontecem em um nível puramente acadêmico, interessados em primeiro lugar nas diferenças e semelhanças intelectuais, e os que ocorrem entre praticantes autênticos de diversas tradições. Na minha experiência pessoal, esse último tipo de diálogo tem sido de grande ajuda no engrandecimento de minha valorização das outras tradições.
O diálogo intercrenças é um dos muitos modos pelos quais podemos compartilhar as tradições uns dos outros. Também é possível fazer isso realizando peregrinações e jornadas a lugares sagrados de outras tradições – e, se possível, rezando ou praticando juntos, ou participando de meditação silenciosa em grupo. Sempre que tenho oportunidade, faço visitas como peregrino aos locais sagrados de outras tradições. Embuído desse espírito, fui aos templos de Jerusalém, ao santuário de Lourdes na França e a vários lugares sagrados da Índia.
Muitas religiões advogam a paz mundial e a harmonia global. Por conseqüência, outra maneira pela qual podemos valorizar as outras religiões é vendo os líderes religiosos reunidos e os ouvindo expressar os mesmos valores, no mesmo palanque, onde estão juntos.
Desmond Tutu, o bispo da África do Sul, apontou-me uma maneira adicional pela qual podemos compartilhar a força religiosa uns dos outros: sempre que ocorre um desastre ou alguma grande tragédia no mundo, pessoas de diferentes religiões podem se unir para ajudar os que estão sofrendo, mostrando, desse modo, o coração de cada religião em ação. Creio que essa é uma grande idéia; além disso, em termos práticos, é uma oportunidade maravilhosa para pessoas de diversas tradições se conhecerem. Prometi ao bispo Tutu que nas futuras discussões sobre compartilhamento intercrenças eu mencionaria essa idéia – e agora estou cumprindo minha promessa!
Assim, existem campos para se promover o diálogo e a harmonia entre as religiões, e existem métodos. Estabelecer e manter essa harmonia é de vital importância porque sem isso as pessoas podem facilmente criar desavenças umas com as outras. No pior dos casos, surgem conflitos e hostilidade, levando ao derramamento de sangue e à guerra. Muitas vezes, algum tipo de diferença ou intolerância religiosa está na raiz de muitos desses conflitos. No entanto, supõe-se que a religião arrefeça a hostilidade, atenue conflitos e traga paz. É trágico a própria religião tornar-se outro motivo para a criação de discórdia. Quando isso acontece, a religião não tem valor para a humanidade – de fato, é prejudicial. Contudo, não creio que devamos abolir a religião; ela ainda pode ser um instrumento para o desenvolvimento da paz entre as pessoas no mundo.
Além disso, embora possamos ressaltar importantes avanços na tecnologia, e até no que chamamos “qualidade de vida”, ainda temos determinadas dificuldades que a tecnologia e o dinheiro não podem resolver: sentimos ansiedade, medo, ira, tristeza por perda ou separação. Somadas a essas dificuldades, temos muitas queixas cotidianas – eu com certeza tenho, e imagino que vocês também.
Esses são determinados aspectos fundamentais do ser humano que permaneceram inalterados por milhares, talvez milhões de anos, e serão superados somente através da paz mental. De um jeito ou de outro, todas as religiões abordam essas questões. Assim, mesmo no século XXI, as várias tradições religiosas ainda possuem um objetivo muito importante – proporcionar paz mental a seus seguidores.
Precisamos da religião a fim de desenvolver tanto a paz interior quanto a paz entre os ovos do mundo; esse é o papel essencial da religião hoje em dia. E, na busca desse objetivo, torna-se imprescindível a harmonia entre as diferentes tradições.
Aprender com outras tradições — Embora não recomende que uma pessoa abandone sua religião original, creio que o seguidor de uma tradição pode incorporar em sua prática certos métodos de transformação espiritual encontradas em outras tradições. Alguns de meus amigos cristãos, por exemplo, embora permaneçam ligados de maneira firme à sua própria tradição, incorporam antigos métodos indianos para o cultivo da unidirecionalidade da mente por meio da concentração meditativa. Também tomam emprestadas algumas ferramentas do Budismo para treinar a mente durante a meditação, visualizações relacionadas ao desenvolvimento da compaixão, e práticas que ajudam na amplitude da paciência. Esses cristãos devotos, ao mesmo tempo em que permanecem solidamente ligados à sua própria tradição espiritual, adotam determinados aspectos e métodos de outras religiões. Creio que isso é benéfico para eles, e sábio.
Essa adoção também pode funcionar na via inversa. Os budistas podem incorporar elementos do Cristianismo em sua prática – por exemplo, a tradição do serviço comunitário. Na tradição cristã, monges e freiras têm uma longa história de trabalho social, em particular nos campos da saúde e educação. O Budismo está muito do Cristianismo no fornecimento de serviço para a grande comunidade humana por meio do trabalho social. De fato, um de meus amigos alemães, também budista, observou que, ao longo dos últimos 40 anos, embora muitos mosteiros tibetanos de vulto tenham sido erguidos no Nepal, pouquíssimos hospitais ou escolas foram construídos por esses monastérios. Meu amigo comentou que, se fossem mosteiros cristãos, junto com o aumento do número deles, com certeza teria havido também um aumento no número de escolas e postos de saúde. Um budista não pode manifestar nada em resposta a uma afirmação dessas a não ser inteira concordância.
Os budistas podem aprender muito com o serviço comunitário cristão. Entretanto, alguns de meus amigos cristãos manifestam enorme interesse pela filosofia budista da vacuidade. Para esses irmãos cristãos, observei que o ensinamento da vacuidade – o ensinamento de que todas as coisas são destituídas de qualquer existência absoluta, independente – é exclusivo do Budismo, e portanto, para um cristão praticante seria sábio não se aprofundar demais nesse ensinamento. O motivo para essa cautela é que, se alguém começa a se aprofundar intensamente no ensinamento budista da vacuidade e a segui-lo com fidelidade, pode destruir a fé em um criador – um ser absoluto, independente, eterno, que, em resumo, não é vazio.
Muitas pessoas manifestam sincera reverência tanto pelo Budismo quanto pelo Cristianismo, e especificamente pelos ensinamentos do Buda Shakyamuni e de Jesus Cristo. Sem dúvida, é de grande valor desenvolver um respeito profundo pelos professores e ensinamentos de todas as religiões do mundo, e em um estágio inicial dá para ser, por exemplo, praticante budista e cristão. Mas, se a pessoa optar em seguir um caminho em grande profundeza, será necessário abraçar um caminho espiritual junto com sua metafísica subjacente.
Podemos traçar aqui uma analogia com a educação. Começamos com uma educação em bases amplas; da escola primária até talvez a faculdade, quase todas as pessoas inicialmente estudam um currículo básico semelhante. Mas, se desejarmos seguir uma especialização, quem sabe um doutorado ou alguma especialidade técnica, só podemos fazê-lo em um campo específico. Desse modo, do ponto de vista do praticante espiritual individual, à medida que se aprofunda no caminho espiritual, a prática de uma religião e uma verdade torna-se importante. Assim, ao mesmo tempo em que é fundamental toda a sociedade humana acolher a realidade de muitos caminhos e muitas verdades, para uma pessoa pode ser melhor seguir um caminho e uma verdade.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Religião Rastafari


É um movimento de caráter religioso, que, em meados do século 20, passou a reconhecer o primeiro imperador negro a governar um país africano como a encarnação do messias na Terra. Apesar disso, o rastafarianismo não é considerado uma religião oficial, pois não possui igrejas, nem um clero organizado. "O movimento rastafári é uma filosofia de vida, que prega uma volta à África, às nossas origens, sempre respeitando a lei da natureza, o próximo e Deus", diz o produtor cultural Alfredo Rasta, presidente da Associação Cultural de Reggae, em São Paulo. O movimento começou a surgir no final da década de 1920, quando o sindicalista jamaicano Marcus Garvey, baseando-se em idéias do Velho Testamento, passou a pregar que todos os negros deveriam retornar à África, a "Terra Prometida" para eles, de onde haviam sido retirados por causa da escravidão. Em 1929, quando pregava numa igreja, Garvey disse: "Olhem para a África. Quando um rei negro for coroado, a redenção estará próxima."
A afirmação foi tida como uma profecia, já que o negro Tafari Makonnen (1892-1975) autocoroou-se imperador da Etiópia um ano depois. Antes de ascender ao poder - onde permaneceu até 1974, quando foi deposto - Makonnen era chamado de "Príncipe Tafari", ou Ras Tafari, no idioma local. Por isso, quem acreditava nas idéias de Garvey e via o imperador como um messias passou a ser chamado de rastafári. O próprio Makonnen ajudou a aumentar a aura sagrada em torno de si ao decidir adotar o nome Hailé Selassié, que significava "O Poder da Santíssima Trindade". Mas, além do lado religioso, o rastafarianismo também teve importância política, lutando contra a opressão dos países colonizados. Hoje, muitos dos seus simpatizantes são vegetarianos, não bebem e defendem o uso da maconha de forma ritual, para estabelecer ligação com o mundo espiritual. As cores do movimento, verde, amarelo e vermelho, referem-se à bandeira etíope e lembram, respectivamente, a natureza, o ouro e o sangue da África e de seu povo.